A autora norte americana, Veronica Roth conhecida mundialmente pelo sucesso literário ‘’Divergente’’ revelou nessa semana a
capa, data de estréia e um capitulo da sua nova saga, intitulada “Carve The Mark”.
Ao que tudo indica se trata de mais uma distopia, (AMAMOS). A história
gira em torno de um garoto em busca de vingança e redenção.
O primeiro livro esta previsto para ser
lançado nos Estados Unidos no dia 17 de Janeiro de 2017.
A equipe do site Divergente Brasil, traduziu o capitulo liberado:
CAPÍTULO 7
A primeira
vez que vi os irmãos Kereseth, foi na passagem dos funcionários que corre
ao lado do Salão das Armas. Eu era várias estações mais velha, chegando
rapidamente na fase adulta.
Meu pai
tinha se juntado a minha mãe no Céu algumas semanas atrás, morto num ataque
durante nossa ultima permanência temporária. Meu irmão, Ryzek, estava agora
seguindo o caminho que nosso pai tinha estabelecido para ele, o caminho para a
legitimidade do Shotet. Talvez até a dominância do Shotet.
Minha
ex-tutora, Otega, foi a primeira a me contar sobre os Kereseths, pois os
serventes da nossa casa cochichavam a historia ao longo dos tachos e panelas na
cozinha, e ela sempre me falou dos cochichos dos serventes.
“Esses
foram pegos pelo mordomo do seu irmão, Vas,” ela me disse enquanto checava
minha redação por erros gramaticais. Ela ainda me ensinava literatura e
ciência, mas eu a ultrapassei em outros assuntos, e agora estudava sozinha
enquanto ela retornava para a cozinha. “E Vas arrastou-os pelo Divide chutando
e gritando, para ouvir os outros. Mas o mais novo – Akos, escapou de suas
obrigações e de alguma forma roubou uma lamina e a voltou contra um dos
soldados de Vas.”
“Qual
deles?” Perguntei. Eu conhecia os homens com quem Vas viajava. Sabia qual
gostava de doces, qual tinha um ombro esquerdo fraco, e ainda qual deles tinha
treinado um pássaro para comer as recompensas de sua boca. É bom saber dessas
coisas. No caso.
“Kalmev
Radix.”
O amante
de doces.
Levantei
minhas sobrancelhas. Kalmey Radix, da elite de confiança do meu irmão, foi
morto por um garoto Thuvhesit? Essa não foi uma morte honrada.
“Por que
os irmãos foram levados?” Perguntei a ela.
“Seus
destinos.” Otega abanou as sobrancelhas. “Ou assim a história diz. E já que
seus destinos são, evidentemente, desconhecidos por Ryzek, é uma história e
tanto.”
Eu não
sabia os destinos dos garotos Kereseth, ou qualquer um a não ser o meu e o de
Ryzek, apesar deles terem sidos transmitidos alguns dias atrás no feed de
notícias da Assembleia. Ryzek tinha cortado o feed de notícias assim que o
líder da Assembleia entrou na tela. Ele tinha anunciado em Othyran, e mesmo que
falar e aprender todas as línguas menos Shotet tenha sido banido do nosso país
por mais de dez estações, ainda assim era melhor estar seguro.
Meu pai me
contou meu próprio destino depois que minha habilidade se manifestou, com pouca
cerimonia: A segunda criança da família Noavek vai cruzar o Divide. Um estranho
destino para a filha favorecida, mas apenas porque é muito maçante.
Eu não me
aventurava mais na passagem dos serventes com frequência – haviam coisas
acontecendo nessa casa que eu não queria ver – mas pegar um vislumbre dos
Kereseths capturados… bem. Eu tinha que fazer uma exceção.
Tudo que
eu sabia sobre o povo Thuvhesit – tirando o fato que eles são nossos inimigos –
era que eles tinham pele, fácil de perfurar com uma lâmina, e eles exageraram
em flores de gelo, a alma de sua economia. Eu aprendi a língua deles por
insistência da minha mãe – a elite Shotet era isenta das proibições do meu pai
contra o aprendizado de línguas, claro – e foi duro pra minha língua, que
estava acostumada ao idioma, sons fortes de Shotet ao invés da silenciosa,
rápida Thuvhesit.
Eu sabia
que Ryzek levaria os Kereseths para o Salão das Armas, então eu me agachei nas
sombras e deslizei o painel da parece para trás, deixando-me uma rachadura para
ver, quando ouvi passos.
A sala era
como todas as outras nas terras de Noavek, as paredes e chão feitas de madeira
escura tão polida que parecia ser revestida por um filme de gelo. Pendente no
teto distante estava um lustre feito de globos de vidro e metal torcido. Um
pequeno pacote de insetos batiam as asas dentro dele, fazendo uma mudança de
luz estranha no ambiente. O espaço estava quase vazio, todas as almofadas do
chão – equilibradas em baixas arquibancadas de madeira, para conforto –
juntando poeira, tanto que sua cor creme virou cinza. Meus pais deram festas
aqui, mas Ryzek usou a sala apenas para as pessoas que ele queria intimidar.
Eu vi Vas,
o mordomo do meu irmão, antes de todo mundo. O lado longo de seu cabelo era
gorduroso e mole, e o lado raspado, vermelho com queimaduras de barbear. Ao
lado dele, um menino, muito menor que eu, sua pele era uma colcha de retalhos
de machucados. Ele era magro nos ombros, sobressalentes e curtos. Tinha pele
clara, e uma certa tensão no corpo, como se estivesse se preparando para algo.
Soluços
abafados vieram de trás dele, onde um segundo menino, com um cabelo cacheado
denso. Ele era mais alto e mais largo que o primeiro Kereseth, mas estava
encolhido, parecendo ser menor.
Esses eram
os irmãos Kereseth, as crianças de destino favorecido de sua geração. Não muito
impressionante de vista.
Meu irmão
esperou eles cruzarem a sala, seu longo corpo drapeado sobre os passos que o
levaram para a plataforma. Seu peito coberto com a armadura, mas seus braços
estavam nus, mostrando uma linha de marcas de matança que iam até as costas de
seu antebraço. Essas eram mortes ordenadas pelo meu pai, para contradizer
qualquer boato sobre a fraqueza de meu irmão que pode ter sido espalhado pelas
classes inferiores. Ele segurava uma lamina pequena em sua mão direita, e a
cada alguns segundos ele a girava na palma da mão, sempre pegando pela alça. À
luz azulada, sua pele era tão pálida que quase parecia um cadáver.
Ele sorriu
quando viu seus Thuvhesit capturados, seus dentes à mostra. Ele poderia ser
bonito quando sorria, meu irmão, mesmo que estivesse prestes a te matar.
Ele se
inclinou para trás, balançando em seus cotovelos e inclinou a cabeça.
“Ora,
ora,” ele disse. Sua voz era profunda e rouca, como se ele tivesse passado a
noite gritando seus pulmões pra fora.
“É esse
sobre quem ouvi tantas histórias?” Ryzek concordou para o garoto Kereseth
machucado. Ele falou Thuvhesit secamente. “O garoto Thuvhesit que ganhou a
marca antes mesmo de coloca-lo num navio?” Ele riu.
Eu cerrei
os olhos para o de braço machucado. Tinha um corte fundo na parte de fora,
próximo ao cotovelo, e uma marca de sangue que corria entre suas juntas, e
secava ali. Uma marca de matança, não acabada. Uma nova, pertencendo, se os
rumores forem verdade, ao Kalmev Radix. Esse era Akos, e o que ficava fungando
era Eijeh.
“Akos
Kereseth, o terceiro filho da família Kereseth.” Ryzek de pé, girando a faca na
palma da mão, andou descendo os degraus. Ele fazia todos parecerem pequenos,
até Vas. Ele era como um homem de tamanho médio que foi esticado pra cima e é
mais magro do que deveria ser, seus ombros e quadris muito estreitos para
suportar o próprio peso.
Eu era
alta também, mas era ai que minhas semelhanças físicas com meu irmão acabavam.
Não era incomum irmãos Shotet serem diferentes, tendo em conta como nossos
sangues são misturados, mas nós éramos mais distintos que os outros.
O garoto –
Akos – levantou seus olhos para Ryzek. A primeira vez que vi o nome Akos foi
num livro de história Shotet. Pertencia a um líder religioso, um clérigo que
preferiu tirar sua vida à desonra-la segurando uma lâmina. Então esse garoto
Thuvhesit tinha um nome Shotet. Será que seus pais esqueceram de sua origem? Ou
queriam honrar algum sangue Shotet há muito tempo esquecido?
“Por que
estamos aqui?” Akos disse, em Shotet.
Ryzek
apenas sorriu ainda mais. “Vejo que os rumores são verdade – você fala a língua
reveladora. Fascinante. Me pergunto como você tem sangue Shotet?” Ele cutucou o
canto do olho de Akos, no machucado que tinha ali, fazendo-o estremecer. “Você
recebeu um castigo e tanto por matar um dos meus soldados, como posso ver.”
Ryzek
encolheu um pouco enquanto falava. Apenas alguém que o conhece por tanto tempo
como eu conseguiria ver, tinha certeza. Ryzek odeia ver dor, não por empatia a
quem está sofrendo, mas porque ele não gosta de ser lembrado que a dor existe,
e que ele está tão vulnerável a ela quanto qualquer um.
“Quase
tive que carregar ele até aqui,” Disse Vas. “Definitivamente tive que
carrega-lo para o navio.”
“Normalmente
você não sobreviveria a um gesto de desafio como matar um de meus soldados,”
disse Ryzek, falando com Akos como se ele fosse uma criança. “Mas seu destino é
morrer servindo a família Noavek, morrer me servindo, e eu prefiro ter algumas
estações com você primeiro.”
Akos
estava tenso desde que eu pus meus olhos nele. Enquanto eu assistia, foi como
se toda a dureza nele tivesse derretido, fazendo-o parecer tão vulnerável como
uma criança pequena. Seus dedos estavam enrolados, mas não em punhos.
Passivelmente, como se ele estivesse dormindo.
Acho que
ele não sabe seu destino.
“Isso não
é verdade,” disse Akos, como se ele estivesse esperando que Ryzek o ajudasse a
aliviar o medo.
“Oh, eu te
asseguro que é. Você gostaria que eu lesse uma transcrição do anúncio?” Ryzek
pegou um papel quadrado de seu bolso traseiro – ele tinha vindo a essa reunião
preparado para causar estragos emocionais, aparentemente – e o desdobrou. Akos
estava tremendo.
“O
terceiro filho da família Kereseth,” Ryzek leu, em Othyrian. De algum jeito,
ler o destino na língua que ele foi anunciado fez parecer mais real pra mim.
Imagino se Akos, estremecendo em cada sílaba, sentia o mesmo. “Morrerá em
serviço da família Noavek.”
Ryzek
deixou o papel cair no chão. Akos pegou com tanta força que quase rasgou. Ele
permaneceu agachado enquanto lia as palavras – repetidamente – como se rele-las
mudaria alguma coisa. Se sua morte, e seu serviço à nossa família, não
estivessem preordenados.
“Isso não
acontecerá,” disse Akos, mais intensamente agora, enquanto se punha em pé. “Eu
prefiro… eu prefiro morrer à…”
“Oh, não
acho que isso é verdade,” Ryzek disse, abaixando a voz num quase sussurro. Ele
se inclinou pra mais perto do rosto de Akos. Os dedos de Akos fizeram buracos
no papel, mesmo ele estando imóvel. “Sei quando as pessoas querem morrer. Eu
mesmo já fiz muitos desejarem a morte. E você ainda está bem desesperado para
sobreviver.
Akos
respirou fundo, e seus olhos encontraram os olhos de meu irmão com uma nova
estabilidade. “Meu irmão não tem nada a ver com você. Você não tem direito a
ele. Deixe-o ir e eu… não causarei nenhum problema.”
“Você parece
ter feito muitas hipóteses erradas sobre o que você e seu irmão estão fazendo
aqui,” disse Ryzek. “Nós não, como vocês podem ter suposto, cruzamos o Divide
apenas para acelerar seu destino. Seu irmão não é um efeito colateral; você
sim. Nós fomos em busca dele.”
“Você não
cruzou o Divide,” Akos retrucou. “Você apenas sentou e deixou seus lacaios
fazerem tudo por você.”
Ryzek
virou e subiu até o topo da plataforma. A parede de cima estava coberta com
armas de todas as formas e tamanhos, a maioria laminas tão longas quanto meu
braço. Ele selecionou uma faca grande, grossa com uma alça resistente, como um
cutelo.
“Seu irmão
tem um destino em particular,” Ryzek disse, olhando a faca. “Eu suponho, você
não sabendo do seu destino, que você não sabe o destino do seu irmão também?”
Ryzek
sorriu de um jeito que ele sempre fazia quando sabia algo que outras pessoas
não sabiam.
“Ver o futuro
da galáxia,” Ryzek citou, em Shotet dessa vez. “Em outras palavras, ser o
próximo oráculo desse planeta.”
Akos ficou
em silêncio.
Fechei
meus olhos contra a linha de luz da rachadura da parede para pensar.
Para meu
irmão e meu pai, cada jornada desde quando Ryzek era novo foi uma busca por um
oráculo, e todas elas acabaram em nada. Provavelmente porque era quase
impossível pegar alguém que sabia que você viria. Mas finalmente, parece que
Ryzek achou a solução: ele localizou um oráculo que não sabia o que era,
flexível o suficiente para ser moldado pela crueldade de Noavek.
Sentei pra
frente de novo para ouvir Eijeh falar, sua cabeça cacheada inclinou pra frente.
“Akos, o
que ele está dizendo?” Eijeh perguntou desajeitadamente em Thuvhesit, limpando
o nariz com as costas da mão.
“Ele está
dizendo que não vieram até Thuvhe por mim,” Akos disse sem olhar pra trás. Era
estranho ouvir alguém que falava duas línguas perfeitamente, sem sotaque. Eu
invejo sua habilidade. “Eles vieram por você.”
“Por mim?”
Os olhos de Eijeh estavam verde pálido. Uma cor incomum, como asas de um inseto
iridescente. “Por quê?
“Porque
você é o próximo oráculo desse planeta,” Ryzek disse para Eijeh na língua da
mãe do garoto, descendo a plataforma com a faca na mão. “Você verá o futuro, no
seu todo e variedades. E tem uma variedade em particular que eu gostaria de
saber.”
Uma sombra
arremessou através das costas da minha mão como um inseto, minha habilidade
fazendo minhas juntas doerem como se estivessem quebrando. Eu sufoquei um gemido.
Sabia que futuro Ryzek queria: governar Thuvhe, Shotet, conquistar nossos
inimigos, ser reconhecido como líder mundial legitimo pela Assembleia. Mas seu
destino pairava sobre ele tão pesadamente quando o de Akos deve pairar agora,
dizendo que Ryzek cairia perante nossos inimigos ao invés de reinar sobre eles.
Ele precisava de um oráculo se quisesse evitar o fracasso. E agora ele tinha
um.
Eu queria
que Shotet fosse reconhecida como uma nação ao invés de uma coleção de
oportunistas rebeldes tanto quando meu irmão queria. Então por que a dor da
minha habilidade – sempre presente – aumentava a cada segundo? “Eu…” Eijeh
assistia a faca na mão de Ryzek. “Não sou um oráculo. Nunca tive uma visão, não
posso… não pode se…”
Eu
pressionei meu estomago de novo.
Ryzek
balançou a faca em sua palma e a atirou para vira-la. Ele vacilou, movendo-a
num circulo lento. Não, não, não, me peguei pensando, incerta.
Akos mudou
para o caminho entre Ryzek e Eijeh, como se pudesse parar meu irmão com apenas
a carne de seu corpo.
Ryzek
assistiu sua faca virar em direção ao Eijeh.
“Então
você deve aprender, rápido,” disse Ryzek. “Porque quero que encontre a versão
do futuro que eu preciso e que me diga o que devo fazer para alcança-lo. Por
que não começamos com uma versão do futuro onde Shotet, ao invés de Thuvhe,
controle esse planeta – hmm?
Ele
concordou para Vas, que forçou Eijeh para se ajoelhar. Ryzek pegou a lamina
pela alça e tocou a ponta na cabeça de Eijeh, bem abaixo de sua orelha. Eijeh
choramingou.
“Não
consigo…” disse Eijeh. “Não sei como formar visões, não…”
E então
Akos agarrou meu irmão de lado. Ele não era grande o suficiente para alcançar
Ryzek, mas ele pegou meu irmão de surpresa, e Ryzek tropeçou. Akos puxou o
cotovelo de volta para soca-lo – idiota, pensei comigo mesma – mas Ryzek era
rápido demais. Ele levantou com um chute no chão, acertando Akos no estomago, e
em seguida, levantou-se. Ele agarrou Akos pelo cabelo, puxando sua cabeça pra
cima, e cortando ao longo do queixo de Akos, orelha ao queixo. Ako gritou.
Era o
lugar que Ryzek mais gostava de cortar as pessoas. Quando ele decide dar uma
cicatriz a alguém, ele queria que ficasse visível. Inevitável.
“Por
favor,” disse Eijeh. “Por favor, não sei como fazer o que você me pede, por
favor não machuque ele, não machuque ele, por favor…”
Ryzek
encarou Akos, que estava segurando o rosto, seu pescoço escorrendo sangue.
“Não
conheço essa palavra Thuvhesit, ‘por favor’” disse Ryzek.
Mais tarde
naquela noite, ouvi um grito ecoar nos corredores quietos de Noavek. Sabia que
não era de Akos – ele foi mandado para nossa primo Vakrez, “para crescer uma
pele mais espessa” como disse Ryzek. Ao invés disso, reconheci o grito como
sendo a voz de Eijeh em reconhecimento de dor, enquanto meu irmão tentava
arrancar o futuro de sua cabeça.
Sonhei
com isso por um longo tempo depois.
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